segunda-feira, 3 de abril de 2017

Sobre o tal do Inverno...



Como um bom ser tropical, sempre achei assombroso o fato de pessoas viverem por livre e espontânea vontade em locais com invernos rigorosos e neve. Tinha um pouco de medo e calafrios só de pensar em lugares frios, já tinha uma imagem mental de um lugar frio cinzento e pessoas fechadas, nada convidativo. Sempre adorei a tropicalidade, o calor, pouca roupa, pessoas festivas, praia mar, cachoeiras e banhos de piscina.
No primeiro ano da nossa viagem foi fácil, começando o inverno zarpamos para o verão natalino Brasileiro, e na volta escolhemos a scicilia, super mediterrâneo aonde a menor temperatura que pegamos foi 18 graus o que foi maravilhoso! E seguimos a India , que almenos nos lugares que passamos de inverno não tinha nada. Ao contrário foi queeente, mais do que gostaríamos ou imaginaríamos. As vezes tão quente que ficava difícil, pensar ou mover. Sim muitas vezes o melhor da índia foi banhos de balde gelado e deitar na cama com ventilador no máximo, isso era Glória, ou nadar no cocho dos bois a cimento frio após três horas de trabalho no campo. um luxo mesmo que com toda baba de boi, e capim amassado. Seguimos por um ano quentíssimo, tivemos uma primavera  de sol e calor na França, com direito a banhos de cachoeira e lago, mangueira e piscina e seguidos para um verão esturricante na costa da Croácia aos pés do mar adriático. Que secura, que quente, acordar às 5:30 e começar a trabalhar as 6:00 pq depois das 10:30 era impossível, as 9:30 já estávamos suando... depois do almoço não dava pra fazer nada a não ser se render a Siesta no lugar mais ventilado e sombrio, só depois das 15:00 tínhamos força para caminhas 10 minutos e chegar a praia. Depois disso seguimos para o Brasil, pegamos os tal dos 40 graus do rio de janeiro, subimos para  a Bahia e passamos mal de calor nos 40 graus úmidos da Amazônia. Gente que calor é esse???
Neste segundo ano nos determinamos a enfrentar o tal  INVERNO, o que tanto me apavorava e o que tanto me escondia. Chegamos  na Hungria que em final de novembro já apresentava temperaturas negativas... -8, -5... No início foi um susto o choque térmico, mas depois com roupas apropriadas, passamos a desfrutar e entender o valor do Inverno.
Tudo isso amenizado pelos banhos termais incríveis, que mesmo estando -8 lá fora e tudo literalmente congelado, estávamos desfrutando um dia de piscinas e banhos termais medicinais incríveis super relaxantes e cheio de atividades incríveis para Joaquim, como cachoeiras, tobogãs, e hidromassagens.
O que mais me impressionou foi que não se passa frio! As casas são construídas para isso, tem isolamento, vidros duplos, sistema de aquecimento. Na verdade cheguei a passa calor dentro de casa. E as roupas adequadas, que te deixam  completamente isolado. Eles tem botas para -20, -40... Aquelas botas fofinhas dentro, impermeáveis por fora e com um belo griping para não escorregar na neve.
O inverno nos proporcionou muito mais tempo dentro de casa, e assim tivemos tempo para desenvolver talentos, estudar, descansar. Foi um  convite ao cuidado de nós mesmos. Praticamos violão, pela primeira vez consegui tocar músicas que amo. Tirei o trauma e toquei com o coração, vibrando a cada nota. Pintei, placas, sinais, casa e janelas. Aprendi o típico bordado húngaro com uma senhorinha de 70 anos. E me pus a bordar e costurar tantas coisas. Voltei a tricotar. Fizemos diversas receitas com os escassos ingredientes do inverno. Estudamos, pesquisamos e fizemos planos, escrevemos, organizamos tantas coisas. Meditamos, acessamos outras dimensões de nós mesmos, esse belo convite ao profundo e íntimo.
Yoga para ajudar e alongar e criar espaços, a dança para mover criar e expressar, longos banhos de banheira para  relaxar e muitas compressas de sal quente para aquecer e retirar a dor .Respirar o ar fresco, escutar o profundo  silencio da neve, perceber os diferentes tons do branco. Esse convite para desacelerar, para esfriar, para ir para dentro.
O aconchego do chá quente, uma sopinha e um risoto ganham um outro significado. Compreendemos e vivenciamos a importância das madeiras para fazer o fogo. Fazer o fogo, esse nosso costume ancestral, que nos permitiu tantos avanços, quanta memória nesse lindo gesto. E a beleza, a dança do fogo, as cores o conforto, a comida do fogão a lenha que já aquece com seu aroma e calor toda a casa.
A Beleza dos flocos de neve, suas únicas formações geométricas, a alegria da neve ( gente é serio, rola um hormôniozinho... , fazer bonecos de neve ,  e caçar eles num grande parque, andar sobre águas congeladas, ver lagos verde turquesa com uma camada branca de gelo...

Cachoeiras congeladas, fazer luminárias de gelo, sorvete de neve, slurp. Guerras de bolinha de neve, deslizar num trenó. Uau tantas novas experiências.
E depois, fico aqui imaginando a beleza e da chegada da Primavera ! todas as árvores rebrotando, o verde voltando os bichos celebrando! As flores e a volta aos poucos de toda a atividade!
No final das contas é muito mais fácil ficar confortável no inverno do que no verão.
Conclusão, nós tropicais é que somos verdadeiros guerreiros de suportar tamanho desconforto térmico. Dá-lhe Chuva Suor e Cerveja!