Sempre
achamos interessante o clima mediterrâneo, suas praias e seus produtos como
azeitonas, amêndoas, pistachos, alcaparras e tal. Tudo é tão lindo e cheio de
sabor. Não neva, na maioria dos lugares ao menos. Parece perfeito. Mas quando a
esmola é demais o santo desconfia e por isso viemos passar um tempo na região
agora no verão para poder viver um pouco essas maravilhas. Só que não é bem
assim.
Em tempos
de mudança climática onde as tendências apontam para os extremos o mediterrâneo
é tão seco e quente que é ótimo para passar duas semanas e voltar para casa.
Viver aqui não é das coisas mais fáceis pois água é um bem extremamente valioso
e, nos lugares onde estivemos o acesso a ela é relativamente restrito. Na
Sicília onde estivemos em janeiro e fevereiro, ou seja, inverno, o clima é
fantástico. O máximo do frio é cinco graus Celsius durante as noites mais frias
e quinze a dezoito durante os dias de sol. Chove bastante e neva no Etna, mas
no verão tudo muda. O verde some e dá lugar há um clima semiárido muito
semelhante ao que temos no nordeste do Brasil seco, quente ao ponto de
esturricar tudo e todos e o acesso a água, que no inverno era livre, passa a
ser limitado a quatro horas, três vezes na semana e é só. Descobrimos que
azeitonas são sofridas e guerreiras para sobreviver em tal clima e as melhores
frutas vem das mais sofridas, assim como a uva. Pistachos são cultivos
valiosíssimos na Ilha, mas no sul da França e outras áreas é cultivo
alternativo para terras onde é difícil cultivar qualquer outra coisa.
Sem
irrigação as plantas da horta morrem em quatro dias ou menos e o solo é tão
rochoso que nem vale a pena ter trator na maioria das áreas. Não podemos negar
as belezas naturais da região, mas do ponto de vista agrícola, nosso sonho de
ter uma fazenda se mudou um pouco mais para o interior onde há mais água e as
plantas são sempre verdes.
Quando
temos olhos de turista, apreciamos aqui que viemos buscar no lugar, mas de um
modo ou de outro aprendemos ou ouvimos histórias dos chamados “locais”, das
pessoas que vivem o dia-a-dia na região. Todo carioca que já foi para a região
dos lagos acha uma maravilha, mas sabe que geralmente falta água e os produtos
do mercado acabam antes de chegarem as gôndolas. O mesmo vale para os paulistas
que vão pra Santos, Guarujá e região. No verão tudo funciona apesar da lotação,
mas no inverno esses lugares parecem abandonados, já que uma parte
significativa dos imóveis da região são a casa de verão de muitas pessoas.
Restaurantes fecham e demais serviços reduzem o funcionamento e a vida segue
assim até a próxima temporada. Com olhos de turista pouco nos identificamos com
a realidade local salvo se ela pular na nossa frente.
Olhando com
olhos de roceiro, de matuto, enxergamos que produzir comida nem sempre é fácil
nessa região e a dependência de água é muito forte.
Parafraseando
D2, “em busca da fazenda perfeita”