quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O clima mediterrâneo

Sempre achamos interessante o clima mediterrâneo, suas praias e seus produtos como azeitonas, amêndoas, pistachos, alcaparras e tal. Tudo é tão lindo e cheio de sabor. Não neva, na maioria dos lugares ao menos. Parece perfeito. Mas quando a esmola é demais o santo desconfia e por isso viemos passar um tempo na região agora no verão para poder viver um pouco essas maravilhas. Só que não é bem assim.
Em tempos de mudança climática onde as tendências apontam para os extremos o mediterrâneo é tão seco e quente que é ótimo para passar duas semanas e voltar para casa. Viver aqui não é das coisas mais fáceis pois água é um bem extremamente valioso e, nos lugares onde estivemos o acesso a ela é relativamente restrito. Na Sicília onde estivemos em janeiro e fevereiro, ou seja, inverno, o clima é fantástico. O máximo do frio é cinco graus Celsius durante as noites mais frias e quinze a dezoito durante os dias de sol. Chove bastante e neva no Etna, mas no verão tudo muda. O verde some e dá lugar há um clima semiárido muito semelhante ao que temos no nordeste do Brasil seco, quente ao ponto de esturricar tudo e todos e o acesso a água, que no inverno era livre, passa a ser limitado a quatro horas, três vezes na semana e é só. Descobrimos que azeitonas são sofridas e guerreiras para sobreviver em tal clima e as melhores frutas vem das mais sofridas, assim como a uva. Pistachos são cultivos valiosíssimos na Ilha, mas no sul da França e outras áreas é cultivo alternativo para terras onde é difícil cultivar qualquer outra coisa.
Sem irrigação as plantas da horta morrem em quatro dias ou menos e o solo é tão rochoso que nem vale a pena ter trator na maioria das áreas. Não podemos negar as belezas naturais da região, mas do ponto de vista agrícola, nosso sonho de ter uma fazenda se mudou um pouco mais para o interior onde há mais água e as plantas são sempre verdes.
Quando temos olhos de turista, apreciamos aqui que viemos buscar no lugar, mas de um modo ou de outro aprendemos ou ouvimos histórias dos chamados “locais”, das pessoas que vivem o dia-a-dia na região. Todo carioca que já foi para a região dos lagos acha uma maravilha, mas sabe que geralmente falta água e os produtos do mercado acabam antes de chegarem as gôndolas. O mesmo vale para os paulistas que vão pra Santos, Guarujá e região. No verão tudo funciona apesar da lotação, mas no inverno esses lugares parecem abandonados, já que uma parte significativa dos imóveis da região são a casa de verão de muitas pessoas. Restaurantes fecham e demais serviços reduzem o funcionamento e a vida segue assim até a próxima temporada. Com olhos de turista pouco nos identificamos com a realidade local salvo se ela pular na nossa frente.
Olhando com olhos de roceiro, de matuto, enxergamos que produzir comida nem sempre é fácil nessa região e a dependência de água é muito forte.

Parafraseando D2, “em busca da fazenda perfeita”

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Realidades

Estive pensando esses dias que, em virtude da viagem, conhecemos tantas realidades que fica impossível não ficar maravilhado com a diversidade de seres humanos e histórias que existem por aí.
Conhecemos uma espanhola doutorada em neurofisiologia que lecionava na universidade de Copenhague que nunca pensou em ter filhos e que hoje está morando em uma fazenda em Portugal casada com um suíço-alemão com quatro filhos e vivendo da terra.
Um português que viajou a américa latina e Amazônia brasileira acompanhado por um amigo italiano trocando comida e alimentação por música fazendo apresentações em bares e restaurantes nos interiores do país.
Um agrônomo Iraniano que escreveu um livro sobre desenvolvimento sustentável e resolveu morar na Inglaterra, deixando para o genro, um escocês, uma plantação de maçãs, peras e outras frutas.
Um padeiro vegano que faz parte de um movimento chamado Incredible Edible e que mora sozinho numa fazenda totalmente off-grid que ganha a vida montando painéis solares e turbinas eólicas em casas.
Um casal que foi vegetariano por 25 anos e criou três filhos nessa filosofia, mas que resolveu deixar de ser vegetariano para poder ser auto-sustentável, já que é muito difícil viver na Inglaterra totalmente do que se produz por conta do inverno e suas restrições.
Um polonês que já morou e trabalhou em diversas comunidades ao longo do leste europeu, incluindo Eslováquia e Grécia e que agora está casado na França com uma francesa que tem quatro filhos.
Um americano gay filhos de judeus ortodoxos cuja mãe tem problemas alimentares e pesa 16okg e já abalou as estruturas da casa, ex-vendedor de diamantes e que agora quer viver viajando pela Europa e se apaixonou por um nudista holandês.
Enfim, tantas outras não menos importantes e não menos interessantes que nos fazem pensa o porquê busca-se a homogeneidade, em especial àquela vendida pela mídia e pelas pessoas que estão no poder. Não faz sentido para nós perdermos o que nos faz único o que nos faz diferentes de todos os demais para nos tornarmos parecidos com todos, vestindo igual, tendo uma aparência semelhante ditada pela mídia, seja com barba ou sem barba, loira ou morena, magra anoréxica e infeliz, pois passa-se a vida inteira querendo ser algo que não é e quando me refiro a isso, excluo totalmente aqueles que querem mudar de gênero, pois nesse caso, eles são algo que não querem ser e por isso a necessidade de mudança.
Vivemos, portanto, em um paradoxo, pois temos todas as possibilidades de sermos quem nós queremos ser do jeito que a gente realmente é, mas que, ao mesmo tempo, somos incentivados a sermos iguais para sermos aceitos ou estarmos na moda. E isso é tão real que todos os dias vemos pessoas conhecidas ou não, que resolvem largar tudo e ir “viver”. Já não aguentam mais morar em cidades grandes, trabalhar oito horas por dia, passar horas no trânsito ou dentro dos transportes públicos para ter um emprego padrão e viver uma vida padrão.
O termo “zona de conforto” ao mesmo tempo que parece apropriado não se encaixa em vários casos já que muitas pessoas, no fundo, não estão se sentindo realmente confortáveis na realidade que escolheram para viver, mas que sentem medo de mudar ou pelo medo de dar errado e passar necessidade ou pelo medo da não-aceitação da sociedade.
Cada pessoa tem seu tempo para aceitar que algo dentro dela quer mudar e mais um tempo para começar o movimento da mudança e, assim que você fizer sua escolha muitos vão te questionar e te colocar contra a parede com perguntas sem fundamento ou que espelhem a falta de coragem dos que ainda não conseguiram mudar.
Se existe dentro de você uma pequena insatisfação em relação a sua realidade, mude e vá em direção aos seus sonhos, sem medo de sofrer, pois em algum momento você passará por algum tipo de situação desconfortável, mas que não será diferente da mesma vida que você leva hoje e que não é perfeita e te faz sofrer as vezes.

Aho!

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Lapsos

Sobre um lapso de tempo.
Desde que fomos ao Brasil em dezembro de 2015, deixamos de escrever no Blog, mas retomaremos com textos mais frequentes e contaremos sobre a nossa viagem desde a Itália, passando pela Índia e França, pois agora estamos na Croácia.

Quando deixamos de escrever o hábito passa e fica difícil retomar. 

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Meus 33 anos

Sempre quis fazer algo incrível no meu ano sabático. Já havia pensado em algumas idéias, mas o que aconteceu foi realmente impressionante. E não foi planejado, foi fluido e tão lindo como a sagrada dança do Universo. Só tenho a Agradecer pela experiência divina de ter vivenciado esse ano com tanta consciência e serviço. Comecei numa fazenda Maravilhosa, a mais bela de todas as 17 que passamos na nossa jornada, o Jardim mais encantado, desses mais lindos que de filmes, desses tão maravilhosos que me arrepiam e fazem sair lágrimas dos olhos... Comemorei com a presença de minha melhor amiga, e ganhei um oráculo do coração que trouxe tantas curas e presentes lindos e um banho de banheira com rosas com uma vista incrível do  tal Jardim encantado, ganhei cartões postais da equipe do jardim, e da nossa host com fotos das mandalas de alimentos da última  exposição de arte, ( essa que queria tanto ver, mas era apenas em outubro) ganhei uma proposta para cozinhar no evento de arte, sim esse que queria tanto ver e isso me gerou o dinheiro para poder ir a India ( que não estava nos planos mas houve o chamado do mestre e em seguida o dinheiro inesperado). Passamos 15 dias na Ilha de Eigg, uma grande vontade desde que assisti ao documentário sobre ela no BBC. Uma ilha comprada por crowfounding pela comunidade que transformou tudo em orgânico e sustentável, com praias e cavernas paradisíacas , fomos a Findhorn, participei do curso de dança que tanto queria, Conheci a arvore de pistache, a moita da alcaparra,florestas de alfarroba, tantas flores novas comestíveis, pancs europeias, Aprendi Françês, Fui a India Participei da maior meditação do mundo com mais de 3.5 milhões de pessoas, me banhei nas mais belas cachoeiras do País de Gales, me purifiquei nas águas sagradas do rio Ganges, e nadei no mar adriático paradisíaco da Croácia,
Andei milhas e quilômetros, e cada passo ganhou um novo significado após o compartilhar da pelegrinação de Satish Kumar no curso de Gandhi e Globalização. Colhi trigo e carreguei na cabeça como fazem as Indianas, aprendi o valor e o sagrada força das sementes. Plantei, como nunca plantei em toda minha vida, de sementes, a mudas, estacas, arvores, revolvi muita terra, tirei pedras do caminho, reguei, rezei para chover, aprendi que o planejamento de qualquer fazenda está intimamente relacionado a previsão do tempo, ciclos da lua e natureza. Colhi abundância, como é generosa essa tal natureza, difícil compreender a falta criada nos grandes centros. Andamos de carro, de ônibus de trêm, tram, Metrô, barco, veleiro, cruzeiro, avião, bicicleta, carona, sleeper bus, tuc,tuc e a pé.. devagar se vai ao longe, muito mais importante é a direção que a velocidade.
Descobri que existem pessoas vivendo da maneira que acredito ser melhor para o planeta, pessoas coerentes, que valorizam o planeta a natureza e a sustentabilidade isso me trouxe tanta esperança!
Aprendi que a comida é muito mais saborosa quando é fresca e recém colhida,que o pão é coisa séria na frança, e que maravilhoso poder fazer tantos pães, baguetes, brioches, croissants, milhares de tipos... de Milhares de tipos de grãos desde seu cultivo, colheita, estoque, moagem, farinha e pão assado sempre em forno a lenha. A falta de frutas no inverno traz a sabedoria e arte das conservas. Quanto aprendemos...
Passei o Natal com minha família, Fui a Bahia para um casamento especial da família do coração, bebi água de coco, tapioca, açaí... bolinho de estudante, pãozinho delícia e sambamos todas as coisas lindas que a Bahia tem! Fui no forró, Passamos a virada do ano na Chapada dos veadeiros, com muitos amigos queridos, e banhos de cachoeira na casa da avó do melhor amigo do Joaquim.
Fiz muita arte, aprendi a trançar cestas, desde o plantio e colheita das fibras, fiz filtros dos sonhos, pintei muros, fiz mosaico, retomei o Tricô, com auxílio da estimada Tia Lourdes que me lembra tanto minha queria avó, fiz sapatos, gorros e blusas que tanto nos aqueceram em dias frios na Inglaterra e comecei o crochê...arrisquei agulha circular mesmo ficando perdida nas primeiras voltas...Conheci agulha de tricô com ponta de crochê
Realizei um grande sonho de construir uma casa, construímos desde a base, uma cabana redonda, fundação em pedra, murro de terra palha e telhado reciproco. Construímos muros de pedras secos e molhados, aprendi a fazer concreto natural e de verdade, aprendi a serra madeira, usar parafusadeira e que fazer construções é mais simples do que se parece mais se gasta muuuita energia. 
Moramos em caravanas, Yurtas, Cotages, Casas centenárias de pedra, em pequenos vilarejos, em cidades mais populosas do mundo, dormimos no chão, compartilhamos a casa com mais 20 pessoas ( graças ao Universo 11 eram conhecidas!), Acampamos com vista para o mar num olival, dormimos em cima de um antigo Pub, e no sótão de uma casa vitoriana de 1700, dormimos no carro, dormimos em sofás cama, em cabanas bioconstruidas.
Respirei e meditei todos os dias, fiz massagens e tratamentos auyrvedicos, fiz retiro de silêncio, performei poojas de gratidão, aprendi orações de poder, curei meu bruxismo pela internet, vivenciei milagres, fiz yoga, dei aulas, participei do Hapiness, fui abençoada, me liberei de antigos padrões e me dei conta de tantos outros, me aceito cada dia um pouquinho mais. Amo cada dia mais o Universo, meu grande e querido amigo. Fui no médico e no dentista para visita-los pois os amo demais e os considero grades sábios. Recebemos elogios da nossa saúde. Ahh sim não tive nadinha de nada... talvez uma dor de garganta aqui e uma dor de cabeça ali, e alguns cortes de cozinha e jardim e queimadinhos de forno...

Tive perdas, mas celebrei encarei elas de diferentes maneiras *brilha, brilha, dança e brilha*. Perdi coisas, ganhei outras e reencontrei o que era realmente meu, nem que precisasse cruzar continentes.

Não peguei trânsito, respirei 90% de ar puro, comemos 85% da dieta orgânica, fique 1 mês sem comer açúcar,  não tomo mais banho todos os dias, e posso usar a mesma roupa por uma semana inteira, não fui nenhuma vez ao salão de beleza, e me acho mais linda do que nunca . cortei meu cabelo com uma grande amiga no  jardim de sua casa, me troquei no banheiro do avião para ir ao casamento.  Fui ao Brasil e voltei apenas com uma mala de mão e sigo viajando desde maio apenas com ela. E ainda assim acho que poderia viajar com menos.
Me desapeguei muito das coisas materiais, acho a propriedade e o senso de privado são no fundo uma ilusão e vejo tantos problemas criados por essa falsa ilusão, Vejo e vivo a beleza do compartilhar e a capacidade de criar realidades através de uma yes mind, através da fé, através da gratidão.
Aprendi que no fundo o mundo não tem barreiras, estamos todos conectados e cada vez mais pessoas estão se dando conta que a felicidade e a paz estão dentro delas mesmas, e que não há dinheiro no mundo capaz de comprá-las. Com certeza as melhores coisas da vida não são coisas e me considero extremamente afortunada por ter uma abundância de amigos e família que me possibilitam viver nessa rede de amor e alegria que é o compartilhar. Que todos os seres sejam felizes,Que todosos seres sejam livres de doenças,   que todos os seres realizem o que é bom, que ninguém seja submetido a tristeza. Paz interior, paz entre as pessoas e paz universal! Que assim seja, que assim já é! Aho